segunda-feira, junho 20, 2005

da divulgação do repertório

Estou ansioso pelos primeiros dias de Julho, sem aulas, para me poder dedicar a alguns projectos ligados à divulgação do acordeão na minha região.
Nas duas associações musicais onde ensino o instrumento pretendo encetar contactos com outras escolas do litoral e do Algarve onde o número de alunos e o nível do trabalho desenvolvido é bastante elevado. O incentivo para a aprendizagem do acordeão passa pela qualidade do repertório e dos seus intérpretes. Por isso é essencial trazer a Évora bons acordeonistas para dar a conhecer o que de melhor se tem escrito para o instrumento nos últimos anos.
Não tenho o dinamismo de colegas como Aníbal Freire, de Alcobaça, ou Paulo Jorge Ferreira, que trabalha em Castelo Branco. Mas conto hoje com o apoio das duas instituições eborenses que estão mais interessadas na divulgação do acordeão de concerto.
Este desejo de dar a conhecer o seu lado mais "sério" não significa que exclua a "world music" ou o Jazz. Temos, em Portugal, músicos como Gabriel Gomes, Artur Fernandes ou Celina Piedade com trabalhos muito sérios (isto é, rigorosos, criativos...) nessa área e com conhecimento do que se faz "lá fora" (e "lá fora" conhece-se Artur Fernandes e os danças ocultas!).
O momento ideal seria o quebrar das barreiras entre os dois mundos (isso está a acontecer há mais tempo do que se julga no meio acordeonístico).
Contudo, essa não é a minha vocação. Foi a via mais "erudita " que me apaixonou desde o princípio...
Para quem não conhece o repertório contemporâneo para acordeão de concerto ou bayan, explore os links de acordeonistas que se encontram aqui ao lado. Todos os comentários serão bem-vindos!

sexta-feira, junho 10, 2005

do repertório

Quando comecei a estudar acordeão a escola de referência era o Instituto Vitorino Matono. Desde o final da década de 50 até ao início da década de 80 os seus alunos encontravam-se entre os melhores acordeonistas da Europa.
Durante muitos anos o Prof. Matono procurou dignificar o instrumento dando a conhecer o repertório original de compositores como Zolotarev, Semionov, Chaikin e outros. As tendências mais vanguardistas ou experimentalistas não o atraiam, preferindo um repertório que não se afastasse muito do tonalismo. Podemos aperceber-nos disso nas suas próprias composições.
A musica "tradicional" portuguesa é a sua fonte de inspiração principal. Também aparece na suas obras uma certa ideia de "exótico" (Fantasia Cigana, Capricho Eslavo). A Java e a Musette,o Fox Trot e o Tango, enfim, os ritmos de dança estão sempre presentes. Vitorino Matono cresceu com essa música e "apesar" da sua formação académica (estudou Composição com Croner de Vasconcelos e Piano no Conservatório de Lisboa) nunca abandonou essas raízes.
Curiosamente, poucos ou quase nenhum compositor português, até há pouco tempo atrás, se interessou pelas potencialidades do instrumento. Seria interessante fazer um estudo sobre a composição para acordeão em Portugal. Além do manancial de peças produzidas pelo Prof. Matono ( não sei se existe uma lista actualizada...) que compositores portugueses escreveram obras para o instrumento ou o incluiram em obras de câmara?


Posso referir, para começar, algumas compositores que dedicaram alguma atenção ao instrumento:
Recentemente, o compositor Carlos Marecos escreveu uma peça, O Medo do Ritmo, para o Concurso Mundial de Acordeão que se realizará em Castelo Branco no mês de Outubro.
Encontrei, no blog de Sérgio Azevedo, uma obra de sua autoria com acordeão.
Amílcar Vasques Dias escreveu para 10 (?) acordeões, na Holanda.
Sei que Jorge Peixinho tinha algum interesse pelo acordeão. Falei uma vez com ele na época em que fui seu aluno de A.T.C na Academia de Música Eborense sobre as possibilidades e limitações do instrumento.
Paulo Jorge Ferreira, professor na Escola Superior de Artes Aplicadas e no Conservatório Regional de Castelo Branco, também tem escrito para acordeão.

terça-feira, junho 07, 2005

Um pouco de história...(1)

O acordeão fascinou-me desde o primeiro dia que contactei com o instrumento. Comecei por descobrir que o repertório não se limitava aos estafados corridinhos algarvios e fandangos ribatejanos.
Conheci o Prof. Vitorino Matono e, na sua escola, excelentes músicos como Arlinda Morais, Maria João Cunha, José António, Aníbal Freire, Paulo Jorge Ferreira, Pedro Santos.
Entrei no universo do acordeão pelo mão da escola italiana. Descobri a música de Fancelli, Beltrami, Volpi, Ferrari-Trecate e Fugazza. Com estes compositores comecei a interessar-me por outras linguagens. Abria-se um novo universo musical à minha frente de ritmos, timbres e harmonias fascinantes.
Foi em Itália que participei pela primeira vez num concurso internacional e ouvi grandes concertistas. Pela primeira vez ouvia um quarteto de acordeão tocar música contemporânea. Confesso que o primeiro impacto foi um choque...
Tudo isto se passa no espaço de 5 anos! Entre os 13 e os 18 anos eu percorrera um caminho que os meus colegas de Lisboa fizeram em 10 anos... Foi tudo tão vertiginoso que nunca cheguei a consolidar alguns aspectos técnicos e artísticos do instrumento e, por essa razão, o meu percurso depois dos 18 anos se tornou muito irregular.
Para falar com franqueza, nunca acreditei, seriamente, na possibilidade de me tornar concertista, de me dedicar exclusivamente ao acordeão. Ouvi muitas reprimendas por ter escolhido outra via (licenciatura em Ciências Musicais). Contudo nunca abandonei o instrumento e continuo, de forma esporádica, intermitente, a tocar em duo ou como solista.´

Depois da história do meu percurso acidentado que pouco interesse terá para os leitores deste blog) gostaria de deixar alguns dados sobre o ensino do instrumento na época em que eu comecei a estudar, no próximo post.